Ninguém gosta de problema. E acredito que a maioria das pessoas evita esbarrar no problema (exceto minha ex-vizinha que é caçadora deles). Mas eles surgem, e muitas vezes por nossa própria culpa, ainda que rejeitemos essa ideia de imediato. A vida adulta é basicamente uma olimpíada de desviar e encarar os problemas, até que chega a hora de dormir. Inclusive ando me questionando se, com meus 35 anos, ainda não me ajustei a esta rotina desgastante de encarar as demandas problemáticas e cansativas do cotidiano. Será que eu não aprendi a ser adulta? Ou pode ser que eu esteja apenas cansada e tudo soa muito mais difícil do que realmente é. Pode ser que essa fadiga venha do meu desespero de querer dar conta de absolutamente tudo achando que o resultado final será sempre perfeito.
E nada fica perfeito. Sempre poderia ter sido melhor: das provas de concurso, que me saio bem, mas não suficiente para passar. Dos treinos da academia, que tento cumprir religiosamente e falho, logo o corpo não fica como eu gostaria. Do meu planejamento financeiro, onde tento organizar as despesas, mas ainda assim a vida continua apertada. Das manutenções cotidianas de manter a casa no lugar, mas a bagunça se renova pois há vida circulando nela. Da energia despendida em montar boas aulas para os meus alunos e muitas vezes ser recebida com desinteresse. Enfim, a vida do adulto funcional que deveríamos estar adaptados ou conformados.
Sempre que os problemas surgem na minha frente, tal qual uma jogadora de vôlei, quero matar a jogada. Prefiro resolvê-los o mais rapidamente possível, encarando o mau cheiro de mexer na merda e os desprazeres de buscar soluções viáveis e reais. Postergar nunca é uma opção. E assim levo minha vida.
Acontece que alguns problemas não se resolvem do dia para a noite. Demandam tempo, seja o da análise e elaboração, ou mesmo o famoso "tempo ao tempo" para que de forma suave as coisas retornem aos seus lugares. Difícil é encarar esse tempo sem ansiedade ou doses homeopáticas de angústia que parece apertar o coração. Dormir e acordar com o mesmo problema e assim sucessivamente até que alguma coisa aconteça é sofrível.
Todo mundo sabe a importância do "Talvez você precise conversar com alguém" (nome de um best-seller que rola por ai). Eu já pequei pelo excesso de conversar tudo com qualquer pessoa, o que me me encaminhou para uma vida cujo lema é: "agora só converso sobre problemas com minha terapeuta", ou é claro, o(s) envolvido(s). A questão é que eles não respeitam o dia da terapia. Detesto quando o abacaxi aparece na sexta e minha sessão é só na próxima quinta-feira. Basicamente é a vida dizendo "você vai precisar resolver isso sozinha, mulher". E a imagem da Edilaine(minha terapeuta) vai se pulverizando no ar e eu caindo em mim que sou adulta e vou precisar lidar com as aflições sem a ajuda dos universitários.
O negócio é assumir a responsabilidade, tolerar o desconforto, dar uma trégua e viver a vida possível. No mais, a conclusão que eu chego é que preciso só de uns dias de férias com meu marido num lugar legal, já daria a energia suficiente para enfrentar a vida com um olhar mais doce. Só sobreviver desumaniza.